A
TARTARUGA DIRIGINDO-SE AOS HOMENS
Devagar, eu? Nem
nisso penso.
Apenas vou,
seguindo o ritmo
Da natureza a que
pertenço.
Eu caminho e vivo
Como cresce a erva
(devagar?)
Como se enchem de
flores as árvores
E se formam os
rebanhos de nuvens no ar.
Vocês
E que vão
desenfreados
E só veem manchas,
pedaços do que existe.
Como se estivesse
alguém a empurrar-vos…
É muito triste!
De corrida em
corrida, como a lebre,
Chegareis antes de
mim ao fim
Da grande corrida
que é a vida.
Só que não ides
ganhar, mas perder
E, o que é pior,
Sem ter visto nada,
Deixando quase tudo
por fazer.
Devagar, cada vez
mais devagar
Eu também lá
acabarei por chegar.
Terei então ganho a
corrida
E, principalmente,
A vida.
Álvaro Magalhães, in “O Brincador”, p. 38
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