terça-feira, 17 de abril de 2018

Poema da Semana de 16 a 20 de abril


À Boca do Cântaro

Caminha sílaba a sílaba
como a fonte
que só pára à boca do cântaro.

Aí consente partilhar a água.
À audácia dos jovens, à timidez
dos que já o não são, mata a sede.
Aos que tropeçam na falta
de amor, aos que mordem as lágrimas
em segredo, dá a beber.

Leva aos lábios febris
a frescura da pedra. Não deixes
o medo multiplicar as garras.
Sílaba a sílaba
caminha até ao cântaro
vazio. – Tão cheio agora!

Eugénio de Andrade, in Os sulcos da sede

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