domingo, 6 de dezembro de 2015

CONTO DE NATAL

O Viajante Clandestino 
José Rodrigues Miguéis
Um dos mais belos contos de todos os tempos em língua portuguesa tem como cenário Baltimore, a cidade portuária norte-americana onde viveu e morreu Edgar Allan Poe, e decorre na noite de Natal. Os tripulantes do cargueiro desembarcaram rapidamente, mas o clandestino Tomé permaneceu horas no porão, aguardando o momento de saltar para terra. “Tinha entrevisto na noite, ao chegar ali, os perfis dos barracões do porto, mais longe fábricas, prédios, o clarão mortiço da cidade. Estava na América, a dois passos do trabalho e do pão, a um salto do seu destino. E o coração batia-lhe de anseio.” Tomé acaba por se escapulir do barco rumo à malha urbana. Mas esbarra com um agente da polícia, bem capaz de lhe cortar as asas ao sonho. Valeu-lhe o facto inesperado de ser noite de Natal…
À hora a que milhões de americanos consoavam, no conforto burguês das suas habitações calafetadas, este português apátrida renascia como cidadão do Novo Mundo no frio nocturno das ruas inóspitas de Baltimore. Exilado e despojado, como o menino-deus nazareno: a eterna magia da noite de Natal.

Conto extraído de “Gente de Terceira Classe”
Para ler on-line:
Antologia do Conto PortuguêsContemporâneo, selecção, prefácio e notas biobibliográficas de Álvaro Salema, Instituto de Cultura Portuguesa, 1984.

Sem comentários:

Enviar um comentário