segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Natal

 


Prelúdio de Natal


Tudo principiava
pela cúmplice neblina
que vinha perfumada
de lenha e tangerinas

Só depois se rasgava
a primeira cortina
E dispersa e dourada
no palco das vitrinas

a festa começava
entre odor a resina
e gosto a noz-moscada
e vozes femininas

A cidade ficava
sob a luz vespertina
pelas montras cercada
de paisagens alpinas

E a multidão passava
E a chuva era tão fina
que parecia filtrada
de taças clandestinas

Finalmente chegava
triunfal e em surdina
a noite convocada
em todas as esquinas

Mas não se derramava
como tinta-da-china
Na cidade acordada
já se ouviam as matinas


David Mourão-Ferreira
, Cancioneiro de Natal 

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